![]() A morte não é uma surpresa. 14 de dezembro de 2016. Cada um é levado a encarar a vida e a morte como algo normal, cotidiano, lógico, etc. A morte não deve causar surpresa. No entanto, na doença, na dor daquele que solicita auxílio encontra-se uma demanda inteiramente diferente. É um sentimento e entendimento abstrato. A vida é o que existe entre o nascimento e a morte. E, ainda assim, a morte é a mais radical experiência humana que a partir dela, pode-se aceder a uma compreensão fundamental do ser humano. A notícia da chegada de uma criança é uma surpresa, da morte não. Minha neta me perguntou aonde estava minha mãe. Eu respondi que ela também já morreu, como o Vovô. Imediatamente ela me disse: “Vovó, mãe não morre! Só Vovôs e Vovós”. Não soube o que responder. Tem-se de perguntar o que significa, afinal, o saber sobre a morte. Existe algo como uma profunda relação entre saber e morte, o saber acerca da própria finitude, quer dizer, da certeza de que um dia vamos morrer, e, por outro lado, o impetuoso e urgente não-querer-saber desse tipo de consciência. (GADAMER, 2006, p.71) Entender a repressão da morte como uma atitude primitiva propriamente humana do indivíduo, que ele adota para a sua própria vida. Assim, entende-se os esforços da sabedoria total da natureza, para se reunir nesta tarefa de fortalecer, de qualquer maneira, o querer existir da criatura, tão logo ela seja ameaçada pela morte. A força das ilusões, com as quais os doentes graves ou moribundos se apegam à vontade de viver, fala uma linguagem inconfundível. De onde será que surgiu esta ideia deste comportamento essencialmente encobridor da morte própria? Acredito que nós mesmos, todo mundo, a sociedade, o "se", o impessoal, ninguém determinado. Em nossa vida diária, em geral, quem predomina é o impessoal, o sujeito do cotidiano. Ele nos retira de um encontro mais sério conosco. Ele nos ensina que a minha morte é, em geral, como a morte de todo mundo, que não há nada de especial nela. A morte não tem nada a ver com a vida prática que levamos...! Para que, então, preocupar-se? A morte não é uma surpresa! Apesar de conviver com essa inevitável verdade há quase 200 mil anos (estimativa da presença do Homo sapiens na Terra) ninguém lida muito bem com a ideia de morrer ou perder um ente querido. Ainda que tenha perdido dezenas de amigos e parentes ao longo da vida, você vai sofrer de novo quando outro mais se for. E o pior: você é capaz de sofrer até pela perda de alguém que não conheceu pessoalmente, como um campeão de Fórmula 1 ou uma princesa que vivia do outro lado do oceano. A ideia de que a dor do luto é um mal necessário para a valorização da vida é reconfortante, mas não faz ninguém sofrer menos. E nem mesmo os bichos escapam desse terrível efeito colateral do apego. Ouvi dizer em um programa de televisão que “ninguém morre de morte”. Desconsidere esta afirmativa para os causadores externos, como assassinatos, eventos da natureza, acidentes, afogamentos, etc. Todos morrem acometidos de “doenças”. De falhas do organismo. Ninguem morre de velhice. Morre porque seu organismo falhou nesta fase da vida. Existe uma lista de doenças que podem causar a falha desta máquina. A que está no topo é o Câncer, depois os problemas do coração. Posso afirmar com frases feitas de para-choques de caminhões que “somos espíritos infinitos que habitam corpos finitos”. Vamos adoecer. Vamos morrer. É bom estarmos cientes disso. Enquanto vivos, habitaremos em corpos frágeis, com montes de tecidos, líquidos expostos à doenças, falência e decadência. Nossa certeza na salvação eterna não nos blinda do ataque destas doenças. Aqui abro uma reflexão quando me perguntam porque Deus permite, permitiu e continuará permitindo as doenças. Estamos todos os dias sujeitos a ter uma fratura, encontrar bactérias resistentes à medicamentos, tumores, dores muitos outros problemas de saúde. A salvação é espiritual e não corpórea. Todos ficarão doentes e morrerão. Não é uma surpresa. Deus nos mostra que muitas e muitas vezes, o aprendizado sobre a obediência, a graça e a glória dEle, vêm mediante um instrumento pedagógico chamado doença, que infelizmente carrega a reboque a dor e sofrimento, neste contexto. Todos os fiéis, de todas as religiões e doutrinas, fazem parte do mesmo grupo: HUMANOS. E todos os humanos ficam doentes. Humanos produzem anticorpos. Humanos reagem a medicamentos. Humanos ficam curados e humanos também morrem. Uma aluna me perguntou se as palavras: Vida – Morte – Doença, eram classificados como substantivos concretos ou abstratos, afinal tudo em volta destas palavras traziam sentimentos carregados de ações e reações e que para ela podiam ser classificados pelos dois modos. Respondi que são substantivos abstratos, pois é “aquilo que não se consegue tocar”, são os que designam os “seres” não tem existência própria, real, verdadeira. Estas palavras existem em nossa imaginação e dependem dos seres verdadeiros, reais, que tem existência própria como a música, o som... você não pode pegar, tocar, pode apenas sentir. Por exemplo: O vermelho desta flor; o movimento da dançarina; o trabalho do professor. O vermelho, o trabalho, a música, o som, estão dependentes de seres verdadeiros, reais, respectivamente da flor, da dançarina do professor. Portanto Vida – Morte – Doença são substantivos abstratos, porque são nomes <<seres>> eles não existem na realidade. Só verdadeiramente os concebemos, quando dependentes dum ser verdadeiro, real: a morte de Antônio, a vida de Bela, a doença do meu marido, etc. Partir a conhecer pelo menos os significados das palavras, já é um começo de aceitar as surpresas e aceitar o esperado. E o que significa “saúde”, esta “invisível” experiência que é, geralmente, apenas compreendida como a ausência de doença? “O puro conhecer é ficção. ” Mas compreender o outro, não se restringe a um controle do corpo, ou da natureza, para então intervir, desta ou daquela forma. Compreender, no caso, é ser, estar, existir junto com o outro, estar atado e, nesta comunhão, deixar nascer e/ou brotar a partir desta experiência um novo entendimento da vida. Reconhecer boas surpresas. Sem ficção. Sem ilusão. O que está em foco é o fenômeno da surpresa – aqui, a doença – que perturba o equilíbrio do corpo, a ordem natural do corpo, o corpo como entendido pelas ciências, isto é, o corpo como deve ser corpo segundo esta perspectiva. Hoje fiquei sabendo que mais uma pessoa próxima está indo de encontro com seu destino implacável. Está com câncer. Ao consolar sua filha, ela me disse: “Nem vou te falar como estou me sentindo, porque você já passou por isso e sabe muito bem”. Naquele momento pensei que nunca saberei lidar com este sentimento, mesmo já tendo passado por isso e que definitivamente não sei muito bem. Como é possível lidar, ou melhor, como aceitar a morte do outro, sem lidar com o que nos é comum, como a minha morte possível, seja ela "próxima" ou "distante"? A vida nos pega de surpresa e as doenças também. E quando estas doenças sinalizam que o fim, os sentimentos, todos eles, que caminham juntos neste momento também serão surpresas. Só a morte que, teoricamente a esperamos desde que nascemos, não será. Amar, sorrir, chorar e sofrer enquanto estivermos nesta vida, será o paliativo para aguardar nosso destino final e, como muitos falam, que venha sem dores físicas, que tudo seja suportável, transformando em despedida temporária, no aguardo em ter o reencontro, com a permissão de Deus. “Que é a vossa vida? É um vapor que aparece por um pouco e depois se desvanece. ” (Tiago 4:14) “Ensina-nos a contar os nossos dias, de tal maneira que alcancemos coração sábio. ” (Salmo 90:12). Para Thalita e Aidê. Sucesso e paz. Vânia Nacaxe
1 Comentário
Terezinha Alencar
12/19/2016 05:08:48 am
Perfeito,realmente todos nós passamos ,mais por mais preparados que dizemos está é uma surpresa.
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Vânia Bastos NacaxeConsultora organizacional, com foco em qualidade de vida. Administradora de Empresas, Palestrante, Moderadora de Cursos, com especialização em Marketing; Técnica de Desenvolvimento Gerencial; Técnica de Vendas; Secretariado, Gerencia Geral, Liderança, Gestão de Pessoas e Psicopedagogia. Arquivo
Outubro 2017
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